Segundo um levantamento da Abrasel, 38,22% dos negócios do setor de alimentação têm mulheres como sócias
O setor de alimentação fora do lar tem uma participação feminina expressiva, com mais de 1,6 milhão de mulheres empregadas. De acordo com dados do IBGE analisados pela Abrasel, as mulheres representam 54% da mão de obra formal nos bares e restaurantes do Brasil. No setor informal, esse índice é ainda maior, chegando a 56%.
Além de marcarem presença no mercado de trabalho, as mulheres também ocupam cargos de liderança e protagonizam trajetórias marcantes de empreendedorismo no ramo.
Segundo um levantamento da Abrasel, 38,22% dos negócios do setor de alimentação têm mulheres como sócias, um índice superior ao de segmentos como comércio (35,15%), agropecuária (36,61%) e construção civil (24,10%).
A jornada dessas empreendedoras, no entanto, não é isenta de desafios. Muitas enfrentam barreiras como a dificuldade de acesso a crédito, a necessidade de conciliar trabalho e vida pessoal e os obstáculos da gestão empresarial.
Mas, com determinação, criatividade e resiliência, essas mulheres transformam sonhos em realidade e contribuem para o crescimento do setor. O impacto de suas conquistas vai além da economia, promovendo também mudanças sociais e culturais significativas.
Da merendeira para o melhor delivery do Amapá
Um exemplo marcante dessa trajetória é Ocinéia Bastos, conhecida como Dona Oci. Sua história no setor começou durante a pandemia, quando, junto com seus filhos, decidiu vender comida por delivery.
Com o dinheiro do auxílio emergencial, montou um cardápio e passou a cozinhar em casa. O Delícias da Oci prosperou e, após três anos operando exclusivamente no delivery, Oci conseguiu abrir seu primeiro restaurante físico.
Hoje, a empresária comemora a expansão do seu empreendimento. Além da matriz, inaugurada no local onde antes era sua casa, Dona Oci abriu mais duas unidades em 2024.
O grupo conta ainda com cinco lojas operando no delivery, além do Delícia de Espeto e do Oci Mercado. Para o futuro, Oci planeja um crescimento ainda maior: já adquiriu um terreno na orla da cidade para um novo espaço, consolidando ainda mais seu sucesso.
Com uma trajetória de trabalho árduo e dedicação, Oci conseguiu transformar um sonho antigo em uma rede de negócios próspera. "Eu me emociono todos os dias com nossas evoluções, cada investimento, cada funcionário novo e cada conquista", conta a empresária.
Para ela, um dos momentos mais marcantes foi a compra de uma nova casa, enquanto sua antiga residência se transformava no restaurante que sempre desejou. A empresária destaca que, apesar das dificuldades, o apoio da família e dos clientes fiéis foi essencial para sua trajetória.
A gastronomia gaúcha reconhecida no Nordeste
Outra trajetória relevante no setor é a de Michele Velho, fundadora do Original Gaúcho Burger. Diferentemente de muitos empreendimentos que começam com um ponto fixo e depois expandem para food trucks, a trajetória do negócio de Michele foi inversa: o restaurante surgiu após anos de experiência com food trucks viajando pelo Brasil.
Durante a pandemia, Michele e sua equipe se estabeleceram em Aracaju, onde abriram um food truck próximo a farmácias para aproveitar o fluxo de pessoas. Com a alta demanda, a empresária logo estruturou a operação com um aplicativo próprio, presença no iFood e divulgação com influenciadores digitais. O sucesso foi imediato, e a marca conquistou uma clientela fiel na cidade.
Com a retomada do comércio pós-pandemia, Michele decidiu abrir um ponto fixo ao lado do local onde operava o food truck. Em abril deste ano, o restaurante completará cinco anos no mesmo endereço, consolidando-se como uma referência gastronômica na região. Hoje, o Original Gaúcho Burger é reconhecido pela qualidade de seus produtos e pela experiência diferenciada que oferece aos clientes.
Gerenciar tanto um food truck quanto um restaurante físico trouxe desafios específicos, mas Michele se adaptou. "A base de gerenciamento eu utilizo a mesma, com tabelas de precificação e acompanhamento de processos, mas as estratégias e metas são diferentes", explica. Hoje, ela busca aprimorar a gestão do ponto fixo e destaca a participação na Abrasel como um fator essencial para essa evolução.
Para Michele, o diferencial do Original Gaúcho Burger não está apenas nos ingredientes ou na referência ao Sul do Brasil, mas na conexão com os clientes.
"Nosso conceito vai além da gastronomia. Contamos nossa história, falamos sobre nossa jornada de viajar pelo país e de como fomos acolhidos em Aracaju. Isso cria uma identificação com nossos clientes, que compartilham seus próprios sonhos e experiências conosco", destaca. Esse vínculo emocional, segundo ela, fortalece a marca e cria uma base fiel de consumidores.
O impacto das mulheres no setor de alimentação
As trajetórias de Oci e Michele refletem um movimento maior dentro do setor de bares e restaurantes: a crescente representatividade feminina e a força do empreendedorismo liderado por mulheres. Seja por necessidade, paixão ou tradição familiar, essas empresárias demonstram que a determinação e a inovação são fatores-chave para o sucesso.
No Brasil, o caminho para o fortalecimento do protagonismo feminino na gastronomia ainda enfrenta desafios, como o acesso a linhas de crédito e a formalização de negócios. Entretanto, iniciativas como redes de apoio, capacitação e associações, como a Abrasel, têm contribuído para que cada vez mais mulheres tenham suporte para empreender e crescer no ramo.
Além disso, a presença feminina no setor contribui para a diversificação dos modelos de negócio e para a criação de ambientes mais inclusivos e inovadores.
O exemplo dessas empreendedoras não apenas fortalece o setor, mas também inspira outras mulheres a seguirem seus sonhos e acreditarem no potencial da gastronomia como uma oportunidade de transformação social e econômica.
*Texto produzido pela Agência de Notícias da Abrasel.