Opinião: Afinal, vale a pena insistir no ensino da letra cursiva nas escolas?

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 Liliani A. da Rosa*

Um assunto relevante para a educação está dividindo opiniões: o uso da letra cursiva nas escolas. A decisão do estado da Califórnia, nos EUA, de voltar a ensinar essa forma de escrita na alfabetização de crianças, trouxe à tona a discussão. Afinal, vale a pena insistir no ensino da letra cursiva nas escolas, uma vez que a era digital domina quase todos os meios de comunicação? Existem benefícios para os estudantes em aprender e praticar a letra cursiva? A psicóloga da Universidade de Washington, Virginia Berninger, conduziu uma extensa pesquisa sobre a relação entre escrita à mão, alfabetização e habilidades cognitivas. Berninger argumenta que a escrita à mão, incluindo a letra cursiva, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo das crianças e na aprendizagem da linguagem escrita.

Outras pesquisas na área defendem que a escrita cursiva envolve uma coordenação fina e precisa dos movimentos das mãos e dos dedos, contribuindo para o desenvolvimento motor das crianças. A neurociência tem mostrado que o uso da letra cursiva estabelece conexões neurais e aprimora habilidades cognitivas em diversas áreas do cérebro, o que aprimora a psicomotricidade e a linguagem, além de aumentar o foco e a atenção. Segundo Karin James, professora da Universidade de Indiana, escrever à mão, em comparação com digitar em um teclado, está associado a uma maior ativação cerebral em áreas envolvidas na linguagem, leitura e cognição. Ela defende que a letra cursiva, em particular, pode oferecer benefícios únicos para o desenvolvimento do cérebro. Por outro lado, em lugares como a Finlândia, reconhecida por sua excelência em educação, a escrita cursiva deixou de ser obrigatória nas escolas desde 2016 para a alfabetização das crianças. Com o avanço constante da tecnologia, defende-se que a escrita digital ganhará ainda mais importância diante das transformações tecnológicas pelas quais o mundo vem passando, e que é essencial que os estudantes desenvolvam habilidades digitais. 

Vale ressaltar que a inclusão digital nas escolas é um direito dos estudantes. No entanto,  uma realidade que preocupa os educadores é o aumento excessivo no uso de dispositivos digitais pelos alunos, o que tem prejudicado a rotina em sala de aula, resultando em falta de atenção, desmotivação para fazer anotações em cadernos e uma crescente expectativa de gratificação imediata. Embora a tecnologia digital seja onipresente, a escrita à mão continua sendo uma habilidade relevante e necessária. Em muitas situações, como ao assinar documentos legais ou tomar notas em aulas, a habilidade de escrever à mão é indispensável. Além disso, a letra cursiva, caracterizada pelas letras unidas e pelo movimento contínuo, ou seja, sem levantar o lápis ou caneta do papel até terminar a palavra, auxilia no desenvolvimento da criatividade. Isso ocorre porque, ao dominar essa forma de escrever, o estudante começa a “desenhar” as letras com traços personalizados, criando um estilo próprio de escrita.

A reintrodução da letra cursiva nas escolas americanas é uma resposta a esse preocupante declínio e visa preservar uma habilidade tradicionalmente valorizada. Nos últimos anos, testemunhamos um movimento crescente em muitas escolas para reintroduzir ou reforçar o ensino da letra cursiva no currículo. No entanto, há quem defenda que a letra cursiva é coisa do passado e que, na era digital, não faz sentido insistir em seu ensino. O fato é que, apesar de dividir opiniões, a letra cursiva desempenha um papel importante na formação integral do estudante e não exclui a necessidade de ensinar habilidades digitais, essenciais para a sociedade atual. Portanto, cabe à escola proporcionar um ensino abrangente que prepare o estudante para enfrentar todos os desafios da vida. 

*Liliani A. da Rosa, especialista em Literatura brasileira e infanto-juvenil, professora dos Anos Finais e assessora de Língua Portuguesa do Colégio Positivo. 


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