Documentário "BLOCO Arquitetos em Construção”
Escritório surgiu no DF e se tornou um dos mais conceituados e premiados do país, tendo destaque internacionalmente
Os brasilienses poderão conferir a partir de 04 de maio o documentário "BLOCO Arquitetos em Construção”, que enaltece a arquitetura de Brasília bem como o trabalho do renomado Escritório da Capital Federal BLOCO Arquitetos, liderado pelos arquitetos brasilienses Daniel Mangabeira, Henrique Coutinho e Matheus Seco. O documentário mostra a influência de Brasília e da paisagem natural nos projetos de produção do escritório. O filme será exibido digitalmente e o público poderá conferir no conforto da própria casa, às 21h, no canal do Lab Design no YouTube (https://www.youtube.com/c/LabDesignTv PROJETOS).
De acordo com os profissionais, os princípios da arquitetura moderna produzida no início de Brasília até hoje podem servir de inspiração para a produção de uma arquitetura contemporânea, essencialmente brasileira e conectada aos desafios dos dias atuais.
Os telespectadores poderão conferir sete projetos autorais que ganharam destaque e que receberam prêmios nacionais e internacionais. Trata-se de um recorte temporal captado entre 2017 e 2021 que celebra os 20 anos de atuação do escritório que tem sede na Capital Federal. “O documentário nos aproxima das pessoas, mostra como realmente somos e a nossa essência como profissionais que somos, que é servir a quem solicita o nosso trabalho através de uma atuação responsável e criteriosa, conectada aos princípios nos quais acreditamos”, disse Henrique Coutinho.
Filmado e produzido pelo cineasta, Jean Bergerot, o documentário trata sobre as particularidades da Casa Palicourea, do edifício-sede do Julião Coelho Advogados, Casa Cavalcante, Casa Vila Rica, Casa das Praças e a Casa Morrone, além do projeto do escritório da BLOCO Arquitetos, localizado no Edifício Morro Vermelho, edifício do grande arquiteto Lelé, construído no Setor Comercial Sul, zona central de Brasília. São projetos com características distintas e, que segundo os arquitetos, criaram oportunidades de abordagens bem diferentes devido às condicionantes particulares de cada um.
Daniel Mangabeira fala da felicidade em expor sua produção em vídeo e da oportunidade de transmitir de forma acessível parte da essência de cada trabalho desenvolvido. “No documentário podemos apreciar o som e a imagem em movimento. A arquitetura é isso, relata o uso de um espaço de maneira não estática, tem relação com o movimento e o filme "BLOCO Arquitetos em Construção” expressa tudo isso, evidenciando o que fazemos na prática, sem edição”, comentou.
De acordo com Matheus Seco, o documentário é um recorte representativo de uma fase importante. “O público poderá ver um momento de transição pelo qual passamos recentemente, já que as filmagens foram iniciadas há mais de cinco anos. Também mostramos um projeto que é muito significativo para o escritório ainda em fase de obra, além de imagens recentes da obra finalizada. Esse é um momento de consolidação de um caminho que trilhamos há vários anos”, declarou.
O documentário “BLOCO Arquitetos em Construção” revela que Daniel Mangabeira, Henrique Coutinho e Matheus Seco são sócios que pensam de maneira diferente, mas têm em comum a busca por um trabalho que possa contribuir com a cidade e servir como campo de experimentação e aprimoramento constante da profissão.
A Casa Cavalcante é uma residência de veraneio, localizada em Cavalcante (GO), inserida no Cerrado, com uma arquitetura que explora a simplicidade estrutural condizente ao ambiente onde foi construída. Feita de estrutura metálica pré-fabricada com telhados de duas águas e com o avanço do piso elevado em concreto armado, tudo foi pensado para respeitar a vegetação local e ao mesmo tempo proporcionar conforto em meio a uma região com altos índices de temperatura. Por isso, as telhas usadas são isotérmicas, os forros de compensado e os troncos de eucalipto que circundam a casa são posicionados segundo a orientação solar de cada fachada. As paredes externas são construídas em taipa e as esquadrias permitem ventilação cruzada constante em todos os cômodos. “Para a arquitetura ser de qualidade não precisa usar materiais caríssimos e gastos exagerados com iluminação e mobiliário. Ela pode ser simples, fácil de entender e ainda assim ter qualidade”, comentou Henrique Coutinho. Entre outros prêmios, a Casa Cavalcante foi finalista do Prêmio de Arquitetura Tomie Ohtake em 2020 e venceu o 1º prêmio da revista Casa & Jardim na categoria “Futuro Sutentável”, também em 2020.
Já a Casa Palicourea, batizada com esse nome em referência a uma planta nativa do Cerrado, foi construída em Alto Paraíso de Goiás, inserida no belo cenário da Chapada dos Veadeiros. O projeto é composto por duas edificações “irmãs”, que funcionam em conjunto, mas que foram construídas de forma independente, sendo que uma é dedicada à habitação e a outra abriga um pequeno ateliê-escola. Ambas possuem diversos níveis de piso interno de modo a adaptarem-se à topografia do terreno. Seus telhados possuem calhas para coleta de águas de chuva para reuso durante o período de seca da região, de forma a reduzir o impacto de seu uso diário sobre a rede local de abastecimento. Além disso, diversas soluções ecologicamente corretas foram utilizadas no projeto, tal como o sistema para geração de energia elétrica através de placas fotovoltaicas e o uso de ecofossas para tratamento de resíduos. A Casa Palicourea venceu o Prêmio de Arquitetura Tomie Ohtake em 2021 e recebeu o 2º lugar na premiação Obra do Ano 2022 do portal Archdaily Brasil, entre outros reconhecimentos recentes.
A preocupação com o envelhecimento dos projetos e com sua manutenção também estão presentes no trabalho do BLOCO. Por isso, os arquitetos procuram valorizar o aspecto natural dos materiais utilizados nos projetos, tais como o tijolo cerâmico e o concreto aparente usados na Casa Vila Rica, situada há 40 km de Brasília. “Se você faz uma obra concisa, simples e sem excessos, ela tende a envelhecer melhor. Além disso, acreditamos que há materiais, tais como o concreto e o tijolo utilizados nessa casa, que ficam ainda mais bonitos com a passagem do tempo, sem a necessidade de manutenção constante”, pontuou Seco. A Casa Vila Rica foi projetada para um casal com filhos que queria ter momentos em um local fora da cidade, onde pudessem ter uma conexão direta com a natureza. Foi então que Daniel Mangabeira, Henrique Coutinho e Matheus Seco projetaram uma casa que é dividida em dois blocos: um dedicado à área íntima e o outro à área social. A maior parte das circulações é feita através de passarelas externas cobertas, porém abertas para as laterais. Dessa forma, os moradores precisam “sair” do interior da casa durante seu uso, como se circulassem ao redor dela através de varandas abertas para a paisagem.
Nesses 20 anos de profissão, os arquitetos desenvolveram um trabalho com personalidade. Trata-se de uma arquitetura que pode ser descrita como racional, pragmática e sem excessos. Uma “arquitetura de adequação”, como eles mesmos descrevem seu trabalho. A admiração dos arquitetos pela arquitetura moderna brasiliense também pode ser percebida no decorrer do filme.
A Casa das Praças - localizada em Brasília, tem vista privilegiada para o Plano Piloto de Brasília. Ela é posicionada na parte mais alta do terreno e separada em quatro setores distintos: íntimo, social, serviço e lazer. É possível observar a divisão dos ambientes internos seguindo os critérios de visão para o exterior e a orientação solar. A separação entre eles é feita através dos espaços descobertos de jardim, as “praças” que dão nome ao projeto. Apesar da definição clara da separação funcional entre os espaços, a composição volumétrica não faz essa distinção, justamente com a intenção de uniformizar as superfícies dispersando o volume resultante da grande área da construção.
O filme mostra ainda um outro desafio do BLOCO Arquitetos que foi a construção de um escritório dentro de uma área residencial e com o reaproveitamento da estrutura de concreto parcialmente demolida de uma casa existente. Trata do edifício-sede do Julião Coelho Advogados, localizado no Lago Sul (Brasília), cujo projeto foi escolhido como vencedor do “Building of the Year Awards 2022” promovido pelo portal Archdaily na categoria “Offices” (Escritórios). Apenas dois trabalhos brasileiros foram escolhidos entre os avaliados do mundo inteiro. Para o projeto foram utilizadas estruturas metálicas e lajes steel deck com a finalidade de ampliar em 50% a área da construção existente por meio de acréscimos e “enxertos” de peças que foram utilizadas para o reforço da estrutura original de concreto. Na fachada os arquitetos criaram uma segunda “pele” em chapas de “aluzinco” onduladas e perfuradas, separadas por um metro da fachada interna. Durante o dia a sua aparência é monolítica, mas à noite se transforma em uma superfície translúcida. Esta superfície protege o interior da luz solar excessiva e mantém a vista para o exterior, enquanto o intervalo entre as fachadas permite ventilação natural e espaço extra para a passagem das instalações.
Esse aproveitamento dos recursos naturais para o favorecimento do conforto na habitação do ambiente também está contido na casa Casa Morrone, outro projeto situado no Lago Sul, em Brasília e que está citado no documentário. A casa prioriza a vista para o interior do lote, alternando espaços construídos e espaços vazios, permitindo o aumento da entrada de luz natural para dentro da habitação sem a perda de privacidade.
O escritório da BLOCO Arquitetos está localizado no conceituado Edifício Morro Vermelho, em Brasília, projetado pelo arquiteto João Filgueiras Lima, conhecido como Lelé. Segundo Daniel Mangabeira, desde a época como estudante ele tinha o sonho de ter um espaço de trabalho no local. O desejo se concretizou cerca de 20 anos depois. “Eu acho esse um dos prédios mais importantes de edificação e altura da arquitetura brasileira, pois ele é inovador ao extremo. O projeto utilizou um sistema construtivo que combina construção local com peças pré-fabricadas. Suas engenhosas soluções de ventilação natural, proteção solar e distribuição de instalações foram pensadas em 1974 e continuam atuais”, comentou o arquiteto.
O espaço foi reformado para receber toda a equipe de forma integrada, possibilitando o compartilhamento do mesmo espaço. O projeto do escritório é vencedor da Categoria Interiores e Design do Prêmio IAB Centenário 2021 – Região Centro Oeste.