Para o empresário, o conflito impacta inflação e juros no Brasil
A invasão da Ucrânia pela
Rússia tem comovido a todos pelas cenas tristes protagonizadas pelos milhões de
refugiados, a grande maioria mulheres e crianças, e os bombardeios às cidades
ucranianas. Mas, além das consequências humanitárias, o conflito tem várias consequências
econômicas com impacto mundial. “Vivemos num mundo globalizado, com intensas
trocas comerciais entre os países, ninguém está imune ao que acontece do outro
lado do planeta”, diz José Maurício Caldeira, sócio acionista da Asperbras.
Segundo ele, já está claro que
a perspectiva da inflação para este ano mudou, e o índice deverá ficar próximo
de 7%, o dobro da meta estipulada pelo Banco Central. Isso porque tem ocorrido
reajustes nos preços da gasolina, diesel e botijão de gás com impacto significativo
na taxa. “Como a Rússia é grande exportadora de petróleo, o preço do barril do
petróleo subiu fortemente e está oscilando muito”, diz José Maurício Caldeira. Por
conta da alta da inflação, os juros básicos da economia devem subir para perto
dos 13%, inibindo a atividade econômica.
Rússia e Ucrânia
são grandes exportadores de commodities. Por isso, qualquer intercorrência na
região impacta o preço dos bens básicos. A
Rússia é a maior produtora mundial de trigo, terceira maior de petróleo
e é responsável por 40% do gás comprado pela União Europeia. A Ucrânia é quinta
maior produtora de trigo a terceira maior de milho.
Além disso, o conflito coloca
pressão extra sobre os custos industriais e posterga a normalização das cadeias
de suprimento no mundo. Desde a eclosão da pandemia, essa logística que
viabiliza a produção dos bens em vários países está desorganizada.
Os países contrários à guerra
deram uma dura resposta econômica à invasão russa. São sanções inéditas que
isolaram o Kremilin do comércio mundial e bloquearam até suas próprias
reservas. Estima-se que cerca de 200 empresas estrangeiras tenham decidido
fechar as portas no país, incluindo o fast food McDonald’s que marcou época
quando abriu sua loja na Praça Vermelha, depois da abertura.
Do ponto de vista do Brasil, uma das maiores preocupações é em relação aos fertilizantes. O país importa mais de 80% dos fertilizantes utilizados no agronegócio e a Rússia responde por 23% do insumo comprado no exterior. No momento, o governo brasileiro está em busca de novos parceiros para comprar o produto. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, visitou recentemente o Canadá em busca de outras fontes da matéria-prima.
Em meio a tanta incerteza,
alguns especialistas enxergam oportunidades para o Brasil. Como é grande
exportador de commodities, o país pode se beneficiar da elevação dos preços
desses produtos no mercado internacional, com impacto positivo para o setor
agrícola.