Pedro Lino*
Sempre que chega o 12 de outubro, as celebrações pelo Dia das Crianças se espalham por todo o país. Em geral, comunidades, pais e unidades de ensino organizam para a data uma série de brincadeiras, comidas diversas e muita música. Anualmente, esse é o dia em que a infância toma as ruas e as casas, quase como uma celebração do direito que as crianças têm de ser felizes, de brincar.
No entanto, com o distanciamento social imposto pela pandemia, é urgente repensar as formas de permitir que a criança tenha momentos para desfrutar de seu momento de vida em plenitude.
Uma das definições do dicionário Michaelis para a palavra "infância" é "primeiro período da existência de uma sociedade ou de uma instituição". Isso significa que é na infância que residem as raízes para tudo o que uma pessoa pode vir a se tornar ao longo da vida - e, consequentemente, para todas as contribuições que essa pessoa virá a fazer à sociedade em que está inserida.
Em um momento em que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe que as crianças da Educação Infantil sejam detentoras de Direitos de Aprendizagem, a infância é novamente revista. Trata-se de um ato para planejar momentos em que a criança possa brincar, conhecer-se, expressar, conviver, participar e explorar. As experiências infantis planejadas não são - e nem devem ser - simulacros da vida adulta, mas, em vez disso, devem colocar a própria vida infantil em contexto e expressão.
Como, então, garantir essas vivências em um momento como este, quando a maior parte das crianças está afastada da escola há vários meses? É papel da escola refletir sobre esse desafio para trazer, com o uso de recursos pedagógicos, criatividade e acompanhamento individual - ainda que online - um espaço em que a criança possa exercitar sua infância.
Como afirma Rousseau, "a infância tem maneiras de ver, de pensar, de sentir, que lhe são próprias. Nada é menos sensato do que a elas querer substituir as nossas e preferiria exigir que uma criança tivesse cinco pés de altura a exigir que tivesse julgamento aos dez anos".
A Educação Infantil toma corpo e forma na mais interessante perspectiva: uma perspectiva infantil, em que todo dia é Dia das Crianças.
Há caminhos a trilhar, organizando a escola como esse lócus da infância, em que se consolida como "lugar de criança" e, consequentemente, "lugar de felicidade".
*Pedro Lino é mestre em Educação e especialista em Gestão Escolar. Supervisor pedagógico da Área Pública da Editora Aprende Brasil, do Grupo Positivo.