Na cultura de aprendizagem tradicional, errar tem sido sinônimo de falhar e, muitas vezes, fracassar. Porém, com medo de errar e de se expor, muitos alunos acabam não experimentando ou participando de atividades importantes para o aprendizado. Segundo especialistas em Educação, os erros são parte importante do ensino, pois além de mostrarem a necessidade de refazer atividades ou repensar situações, também servem para preparar os alunos para cenários fora da escola, ensinando que o erro não é só negativo.
“A aceitação do erro promove um desenvolvimento mais equilibrado, no sentido que a própria inovação e a criatividade, que são elementos fundamentais na aprendizagem, são também processos que dependem de não termos medo de errar”, explica o professor Júlio Furtado, mestre em Educação, Doutor em Ciências da Educação e especialista em Programação Neurolinguística. Para ele, o erro também humaniza a aprendizagem e a sala de aula seria o melhor lugar para lidar com isso. “Escola é lugar de errar, de desenvolver o processo da busca de respostas – e isso, com certeza, envolve a naturalização do erro”.
Para que essa cultura seja transformada nas salas de aula, a mudança precisa partir dos professores. “Errar é um grande aprendizado, não só para o aluno, mas também para o professor que, se puder errar na frente dos seus alunos, se humaniza, se torna inteiro”, reflete a atriz Kiara Terra, contadora de histórias e especialista em improvisação.
Além disso, ela lembra que o sistema, como um todo, ainda é demasiadamente rígido em relação aos erros. “Atrás de um professor que não escuta ou que tem um modelo muito rígido de certo e errado, tem também um modelo de Educação que se pauta na intolerância ou na escolha de um único modo de ver o mundo. O educador transformador, que se repensa e considera os saberes das suas crianças, é um educador que faz uma escola mais diversa, mais plural, na qual modos de vida diferentes são melhor acolhidos”, expõe Kiara.
Avaliação também precisa ser repensada
O modelo de avaliação implementado nas escolas brasileiras hoje também influencia e fortalece a cultura de contraposição ao erro. “O processo de avaliação da aprendizagem é muito classificatório, é um processo que tem a desculpa de corresponder ao tipo de avaliação que a vida vai exigir da criança. Mas a escola não tem que imitar essa seleção, muito pelo contrário, a escola precisa avaliar de forma formativa. A avaliação precisa estar de mãos dadas com a aprendizagem”, orienta Julio. Para ele, atualmente, a escola é muito ranqueadora. “Esse é um dos aspectos que alimenta e fortalece a ideia do erro como uma coisa que é indesejável, que precisa ser negada e, até mesmo, castigada”.
Sobre a ideia de ranqueamento, Kiara concorda que esse não é o melhor caminho. “Perdemos o processo, a visão de todo quando nos preocupamos exatamente com o primeiro, segundo, terceiro colocados. Essa visão competitiva dentro da escola leva a uma visão que não conta com o caminho que o aluno faz para chegar naquele aprendizado, e sim quase a uma tabela de colocações. E será que quem anda primeiro vai correr primeiro ou vai dançar primeiro? Quem lê primeiro vai se formar primeiro? Nós não sabemos e eu desconfio que não”, complementa.
O debate de Júlio Furtado e Karla Terra pode ser acompanhado na íntegra no nono episódio do podcast PodAprender, da Editora Aprende Brasil. Com o tema “É errando que se aprende – como aproveitar melhor o erro na escola e na vida”, o programa pode ser ouvido no site , nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e nos principais agregadores de podcasts disponíveis.